Nos muitos anos em habito este planeta azul, acreditei e deixei de acreditar em muitas coisas. Acreditei e desacreditei porque me foi dito para acreditar e desacreditar, como no caso da existência do Papai Noel e da segurança das criptomoedas, por exemplo; e também acreditei porque me foi provado que era possível acreditar, assim como desacreditei por sido provado que algo era impossível – e o único exemplo que me vem à mente enquanto escrevo estas mal traçadas linhas foi quando eu passei a acreditar que pessoas que creem que planeta azul que coabitamos é plano não são capazes de passar em um exame psicotécnico. E no desenrolar desses muitos anos, depois de muito ter visto e vivido, aprendi que além do possível e do impossível também existe o improvável. E nunca mais duvidei de nada – figurativamente, já que eu duvido que a Terra seja plana. Mas, atendo-me primeiramente às coisas das quais eu não duvido, o Inferno Astral lidera o ranking, vencendo por muito pouco a possibilidade de que além dos exames psicotécnicos, terraplanistas também seriam reprovados em exames de fezes.
Eu não duvido do Inferno Astral nem por um segundo, mesmo não acreditando em Horóscopo, até mesmo porque não fica bem um ariano com ascendente em escorpião e lua em capricórnio acreditar nessas coisas na minha idade. Não há outra explicação para o micro-ondas, o carro e a máquina de lavar quebrarem praticamente juntos, uma goteira surgir exatamente em cima do meu amplificador de guitarra (cujo acabamento é em couro) dois dias depois do pedreiro que fez a impermeabilização três anos atrás e nunca mais tive contato, perguntar do nada se o serviço tinha dado algum problema; e o pedido de um exame reaparecer depois de quinze dias de sumiço, só para a atendente de um dos laboratórios conveniados me avisar, ao chamar a senha 2101 na marca de quatorze horas de jejum, que o meu plano não é mais aceito e que o valor do exame excedia em quase oito vezes tudo que eu tinha no meu bolso naquele momento. A única coisa que eu questiono em relação ao Inferno Astral é a sua duração. A Astrologia diz que a duração é de um mês e finda no dia do aniversário. Acho que esse intervalo de tempo pode estar correto, mas questiono se esses tais trinta dias são realmente dias terrestres, pois sempre tenho a sensação de que o meu Inferno Astral vigente está baseado em algum planeta de órbita mais extensa, como Júpiter, Saturno ou, mais provavelmente, Apokolips.
Contudo, mesmo nunca duvidando do Inferno Astral e sua vasta criatividade quando o assunto é me deixar um passo mais próximo de um infarto, do qual o meu plano de saúde pode não ser de muito auxílio, eu acredito nos contrapesos que mantém o universo em equilíbrio: a vida pode não ser só filé, mas também não é só jiló. Uma a nuvem escura se dissipa e o sol volta a brilhar. Nisso, eu boto fé.